sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Mundial de 74: cores mais vivas na TV


1974 é o ano em que o mundo conheceu o futebol total do "carrossel" holandês. Já a seleção brasileira, depois da euforia da conquista de 1970, desembarcava na Alemanha Ocidental em busca do tetracampeonato. As transmissões ao vivo pela TV não eram mais novidade e as cores tinham chegado oficialmente à telinha (1972). Como vimos em "Vozes do Tri", na Copa de 70 só privilegiados assistiram aos jogos em cores. Quatro anos depois, os aparelhos de televisão se popularizavam, apesar de ainda ser um artigo de luxo. 


Essa nota do jornal O Estado de S.Paulo informa que só na Grande São Paulo eram quase dois milhões de aparelhos de TV. Em 70, o Brasil inteiro tinha pouco mais de quatro milhões de televisores. De qualquer forma, as transmissões na Copa de 74 foram bem mais amplas do que em 70 e não havia limitação de som e imagem. As emissoras fizeram trabalhos independentes, não foi preciso formar um pool como no mundial anterior. Mais uma vez mergulhei nos jornais da época para contar a história das transmissões do mundial disputado na então Alemanha Ocidental. A seleção brasileira, sem Pelé, Tostão e Gérson, ainda tinha Jairzinho e Rivellino, craques de 70, mas apresentou um futebol decepcionante, perdendo até mesmo a decisão do terceiro lugar para a Polônia.

A Copa começou no dia 13 de junho. A grade de programação da TV informava a transmissão por todas as emissoras:


Aqui, uma chamada dos jornais publicada naquele dia em que a seleção brasileira entrou em campo para a abertura da Copa do Mundo diante da Iugoslávia (0 a 0). O anúncio mostra que a Bandeirantes e a Record fizeram transmissões conjuntas ao longo da competição. A TV Gazeta também integrou o Sibratel, apesar de não aparecer nesta chamada de jornal: 



Fernando Solera e Peirão de Castro, como vemos na chamada acima, dividiam a transmissão conjunta de Record, Bandeirantes e Gazeta. A Globo mais uma vez contou com Geraldo José de Almeida. Praticamente não existem registros dessas narrações. Um incêndio na Globo, em 1976, destruiu parte do acervo da emissora, incluindo jogos da Copa de 74. Pela TV Cultura, narraram Luiz Noriega, José Carlos Cicarelli e Carlos Eduardo Leite. Walter Abrahão e Fernando Sasso foram destacados pela Tupi.

Em 70, foram transmitidos ao vivo apenas 11 dos 32 jogos. Já em 74, o número chegou a 20 de um total de 38 duelos. A Copa na Alemanha teve cobertura bem mais ampla do que a de quatro anos antes, no México. Normalmente eram exibidos dois jogos ao vivo por dia mais uma reprise à noite. 

No segundo dia de competição, em 14 de junho, o anúncio de duas partidas ao vivo:



Aqui, a grade da TV em 14 de junho: 


Dos três jogos daquele dia, dois foram exibidos ao vivo. De acordo com a grade acima, a Globo não transmitiu Alemanha Ocidental e Chile. Não é possível saber se a outra partida, entre Alemanha Oriental e Austrália, foi levada ao ar à noite em vídeo-tape.  

Em 15 de junho, teve a estréia da "laranja mecânica", como a Holanda passou a ser chamada. As peças do time treinado por Rinus Michels não guardavam posição fixa e confundiam a marcação adversária. Os jogadores se movimentavam como um carrossel. Johan Cruijff e Neeskens eram os destaques. No primeiro jogo, vitória sobre o Uruguai por 2 a 0. Aqui a chamada nos jornais sobre as três partidas do dia:




Já o guia de programação publicado pela Folha, por algum erro, não citava qualquer transmissão da Copa:



Depois do empate por 0 a 0 na estréia, a seleção voltou a campo em 18 de junho para enfrentar a Escócia. Ficou, de novo, em um empate sem gols. No mesmo dia, a TV também transmitiu a segunda partida dos donos da casa:



Aqui a grade de programação. À noite, todas as emissoras reprisaram o novo empate da seleção brasileira: 


No dia 19, a TV transmitiu, ao vivo, apenas o clássico entre Itália e Argentina. À noite, o VT da goleada da Iugoslávia sobre o Zaire por 9 a 0.



A grade de programação confirma a chamada acima (19 de junho de 1974): 




Depois de dois empates sem gols, a seleção brasileira precisava vencer o fraco Zaire para passar a próxima fase da Copa. Aqui a chamada criativa do Sibratel do dia 22 de junho de 74:




A seleção fez o que precisava: venceu o Zaire por 3 a 0 e garantiu a classificação. À tarde, a TV exibiu um duelo histórico: a vitória da Alemanha Oriental sobre os alemães ocidentais por 1 a 0. Interessante que a derrota ajudou os futuros campeões mundiais que caíram em uma chave mais fraca na fase seguinte. À noite, o jogo da seleção foi reprisado:



Em 23 de junho, foi exibido o duelo entre Itália e Polônia. Pesquisando os jornais, não há registro da grade de programação do dia. Na época, a TV Bandeirantes tinha uma promoção, o Telão, em que os jogos da Copa eram exibidos em centros de convenções e ginásios esportivos. Portanto, nessa chamada abaixo, a citação ao jogo em que a Polônia venceu a Itália por 2 a 1. Aliás, os poloneses terminariam a Copa em terceiro lugar.



Nos jornais, vemos apenas a chamada do outro jogo do grupo: Argentina versus Haiti:


Nesse dia 23, foram disputadas mais duas partidas, com a definição do Grupo 3: Bulgária x Holanda e Suécia x Uruguai. 

A Copa de 74 (assim como o mundial seguinte, em 78) não teve jogos eliminatórios. As oito seleções classificadas foram divididas em dois grupos. No A: Brasil, Argentina, Holanda e Alemanha Oriental. O grupo B teve Alemanha Ocidental, Polônia, Suécia e Iugoslávia.

Na primeira rodada, em 26 de junho, a seleção brasileira venceu a Alemanha Oriental, por 1 a 0, com gol de Rivelino de falta:



A grade da programação daquele dia indica que as emissoras exibiram uma reprise à noite, possivelmente o jogo do Brasil.

No dia 30 de junho, a seleção faria o duelo contra a Argentina e venceu a partida por 2 a 1, dando esperanças à torcida de chegar à final.



À tarde, a TV transmitiu a vitória da Alemanha Ocidental sobre a Suécia por 4 a 2. Naquele dia, a Folha não publicou a grade de programação da TV.


Na quarta-feira, 3 de julho de 74, Brasil e Holanda fizeram um duelo histórico. O carrossel venceu, 2 a 0, e garantiu vaga na final da Copa. 


Mais cedo, foi transmitida, ao vivo, a vitória da Alemanha Ocidental por 1 a 0 sobre a Polônia. O time do capitão Beckembauer jogaria a final em casa.




No sábado, dia 6 de julho, a seleção brasileira disputou o terceiro lugar contra a Polônia e perdeu por 1 a 0, gol de Lato, artilheiro da Copa de 1974 (7 gols).



O jogo foi transmitido as 11h45 da manhã e reprisado à noite.


Na final de 7 de julho, a glória ficou com os alemães que surpeenderam a Holanda. Vitória por 2 a 1, repetindo o título de 20 anos antes.





RÁDIO NA COPA 74

A Copa de 74 teve ampla cobertura pelo rádio. Abaixo as chamadas publicadas nos jornais pela Jovem Pan e Bandeirantes. O locutor principal da Pan era Osmar Santos. E da Band, o veterano Fiori Gigliotti. 





Pelas chamadas publicadas nos jornais, vemos que o rádio, apesar da forte concorrência com a TV, apostou em uma ampla cobertura, transmitindo de até três jogos por dia.















Aqui as chamadas da segunda rodada: 






Chamadas da terceira rodada: 











Pela segunda fase da Copa, o confronto entre Brasil e Alemanha Oriental: 






Agora o duelo entre Brasil e Argentina: 





No dia três de julho de 1974, o confronto histórico diante da Holanda:






Decisão do terceiro lugar: o apoio à seleção brasileira:






As chamadas da Jovem Pan e da Bandeirantes da transmissão da final da Copa:









TABELA COPA 1974


GRUPO 1

14/06/1974 - Berlim Ocidental: Alemanha Oc. 1 x 0 Chile
14/06/1974 - Hamburgo: Alemanha Or. 2 x 0 Austrália
18/06/1974 - Hamburgo: Alemanha Oc. 3 x 0 Austrália
18/06/1974 - Berlim Ocidental: Chile 1 x 1 Alemanha Or.
22/06/1974 - Berlim Ocidental: Austrália 0 x 0 Chile
22/06/1974 - Hamburgo: Alemanha Or. 1 x 0 Alemanha Oc.

GRUPO 2

13/06/1974 - Frankfurt: Brasil 0 x 0 Iugoslávia
14/06/1974 - Dortmund: Zaire 0 x 2 Escócia
18/06/1974 - Gelsenkirchen: Iugoslávia 9 x 0 Zaire
18/06/1974 - Frankfurt: Escócia 0 x 0 Brasil
22/06/1974 - Frankfurt: Escócia 1 x 1 Iugoslávia
22/06/1974 - Gelsenkirchen: Zaire 0 x 3 Brasil

GRUPO 3

15/06/1974 - Hannover: Uruguai 0 x 2 Holanda
15/06/1974 - Düsseldorf: Suécia 0 x 0 Bulgária
19/06/1974 - Hannover: Bulgária 1 x 1 Uruguai
19/06/1974 - Dortmund: Holanda 0 x 0 Suécia
23/06/1974 - Dortmund: Bulgária 1 x 4 Holanda
23/06/1974 - Düsseldorf: Suécia 3 x 0 Uruguai

GRUPO 4

15/06/1974 - Munique: Itália 3 x 1 Haiti
15/06/1974 - Sttutgart: Polônia 3 x 2 Argentina
19/06/1974 - Stuttgart: Argentina 1 x 1 Itália
19/06/1974 - Munique: Haiti 0 x 7 Polônia
23/06/1974 - Munique: Argentina 4 x 1 Haiti
23/06/1974 - Stuutgart: Polônia 2 x 1 Itália

SEGUNDA FASE

GRUPO A

26/06/1974 - Gelsenkirchen: Holanda 4 x 0 Argentina
26/06/1974 - Hannover: Brasil 1 x 0 Alemanha Or.
30/06/1974 - Hannover: Argentina 1 x 2 Brasil
30/06/1974 - Gelsenkirchen: Alemanha Or. 0 x 2 Holanda
03/07/1974 - Gelsenkirchen: Argentina 1 x 1 Alemanha Or.
03/07/1974 - Dortmund: Holanda 2 x 0 Brasil

GRUPO B

26/06/1974 - Düsseldorf: Iugoslávia 0 x 2 Alemanha Oc.
26/06/1974 - Stuttgart: Suécia 0 x 1 Polônia
30/06/1974 - Frankfurt: Polônia 2 x 1 Iugoslávia
30/06/1974 - Düsseldorf: Alemanha Oc. 4 x 2 Suécia
03/07/1974 - Frankfurt: Polônia 0 x 1 Alemanha Oc.
03/07/1974 - Düsseldorf: Suécia 2 x 1 Iugoslávia

TERCEIRO LUGAR

06/07/1974 - Munique: Brasil 0 x 1 Polônia

FINAL

07/07/1974 - Munique: Holanda 1 x 2 Alemanha Oc.


Fontes consultadas: 


- Acervo dos jornais Folha de S.Paulo e Estadão (junho/julho de 1974);

- Acervo da revista Veja (junho/julho de 1974);

- Acervo dos 38 jogos da Copa de 74 (arquivo pessoal do autor);

O AUTOR



Thiago Uberreich é formado em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1999). Começou a carreira, em 1996, na Rádio Eldorado de São Paulo (atual Estadão).  Passou pelas funções de redação, edição, reportagem e apresentação.

Em 2005, recebeu convite para integrar a equipe de reportagem da Jovem Pan. Participou de inúmeras coberturas e atuou como setorista no Palácio dos Bandeirantes. Desde março de 2016, apresenta o Jornal da Manhã (6hs às 10hs).

Apaixonado por futebol e história das Copas do Mundo, gosta de elaborar séries especiais.

Em 2010, venceu o prêmio Embratel, categoria Reportagem Esportiva, com a série Histórias das Copas, veiculada nos meses que antecederam o mundial na África do Sul.  Em 2011, levou ao ar a série "Vozes do Tri", sobre a conquista da Copa de 70. Em 2012, fez a série "50 anos do bi". Em 2015, produziu "A Copa que nunca acabou", sobre o mundial de 1950. Em 2016, conseguiu reunir os áudios na íntegra dos seis jogos da seleção brasileira em 50. Possui um dos maiores acervos pessoais de vídeos de futebol do país. São 4 mil horas de gravação (2 mil DVDs).

Críticas, sugestões ou correções: tuberreich@gmail.com